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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Um tempo.

Houve um tempo em que eu ganhava a tarde ouvindo a chuva escorrer pelo telhado acinzentado de minha casa, debruçado em um colchão velho e macio com uma vela e um fósforo no bolso. Um tempo em que ficava olhando as angulações que as gotas d’água faziam ao sopro do vento quando desciam embebidas de vida para doar ao chão fertilidade. Um tempo em que eu respeitava os trovões e me escondia dos espelhos. Hoje em dia me sinto forte o bastante para não ter mais respeito pelos trovões nem admiração pela chuva. E toda vez que ela se aproxima de mim, não a enxergo, não a noto, não a toco. Estou impermeável à vida. Troquei os lampejos dos trovões pelas lâmpadas de led. Uma troca justa para quem não tem mais nenhum tempo.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O PODER NA PERSPECTIVA FOUCAULTIANA(por Beckenbauer Souza Simas) A argentina Esther Diáz, ao procurar fazer um cruzamento analítico entre a vida de Foucault e sua obra em A filosofia de Foucault (2012), coloca como epígrafe do capítulo primeiro do livro uma afirmação do próprio filósofo: “cada um de meus livros pode ser lido como um fragmento de autobiografia”. Analisando a trajetória intelectual e a vida de Michel Foucault, Diáz se depara com alguém que se pergunta como fazer da própria vida uma obra de arte. Onde terminaria a vida e onde começaria a arte na vida deste autor? Para ela, a obra foucaultiana poderia ser dividida em três fases distintas e interligadas: a arqueológica, a genealógica e a ética . Cada uma destas fases possui uma estreita ligação com as experiências de vida de Foucault: da sua educação escolar católica permeada por restrições, da rejeição do pai e dos problemas de ordem relacional que o levaram à marginalização por causa da sua opção sexual, até as intervenções médico-psicológicas por razão das tentativas juvenis de suicídio, existem várias imbricações entre o que foi vivido e o que foi abordado por Foucault. Fica claro que as relações – essencialmente de poder – que manteve com outras pessoas, grupos e instituições podem ter influenciado sobremaneira os seus estudos sobre temas como o saber, a disciplina, a escola, a repressão, o biopoder, o hospital etc. A questão do poder em Foucault assume uma capilaridade que drena quase que toda a sua obra – mesmo que só apareça de forma implícita na fase arqueológica, em História da loucura, Nascimento da clínica e As palavras e as coisas . Segundo Albuquerque (1995), não se pode falar em uma teoria do poder em Foucault, visto que, quando “trata de maneira mais sistemática do poder, Foucault prefere falar em ‘precauções metodológicas’, ‘regras’, etc., e nunca em teoria.” (p.105) . Quando ele trata do poder, pode-se dizer que diverge da maneira tradicionalmente pensada pelo Ocidente a partir da modernidade, isto é, sob um viés hobbesiano – o que ele denominou de poder-soberania, onde há uma explícita divisão de papéis entre a figura do soberano (que poderia ser uma pessoa, o estado, a nação etc.), representando o centro detentor do poder, e seus súditos, os que são desprovidos da capacidade de obter obediência, de impor seu ponto de vista e vontade ou que são improváveis de influenciar um comportamento alheio. O poder pensado no sentido foucaultiano é um poder sem rei, sem uma fonte de onde ele emerge e se propaga. Na introdução de Microfísica do Poder (1998) intitulada “Por uma genealogia do poder”, Roberto Machado, um dos seus mais respeitados interpretes, esclarece que para Foucault os poderes não estão situados ou instalados em lugar específico algum, antes disto, eles funcionam como uma rede de dispositivos a que nada ou ninguém escapa. Para Machado, “(...) o poder não é algo que se detém como uma coisa, como uma propriedade, que se possui ou não. Não existem de um lado os que têm o poder e de outro aqueles que se encontram dele alijados. Rigorosamente falando, o poder não existe, existem sim práticas e relações de poder. O que significa dizer que o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona.” (p.XIV). Uma análise mais detalhada sugere que o estudo genealógico do poder é uma ruptura com a maneira tal como a ciência política vinha se debruçando sobre este tema. Importa a Foucault reconhecer que o poder não é algo que, conforme uma visão materialista da história, foi apropriado por um indivíduo, grupo ou classe social para o exercício da dominação e da sujeição de outros. Em História da Sexualidade I: a vontade de saber (2012) ele escreve: “Dizendo poder, não quero significar ‘o poder’, como um conjunto de instituições e aparelhos garantidores da sujeição dos cidadãos em um estado determinado. Também não entendo poder como um modo de sujeição que, por oposição à violência, tenha a forma de regra. Enfim, não o entendo como um sistema geral de dominação exercida por um elemento ou grupo sobre o outro e cujos efeitos, por derivações sucessivas, atravessem o corpo social inteiro. A análise em termos de poder não deve postular, como dados iniciais, a soberania do Estado, a forma da lei ou a unidade global de uma dominação; estas são apenas e, antes de mais nada, suas formas terminais. Parece-me que se deve compreender o poder, primeiro, como a multiplicidade de correlações de forças imanentes ao domínio onde se exercem e constitutivas de sua organização; o jogo que, através de lutas e afrontamentos incessantes as transforma, reforça, inverte; os apoios que tais correlações de força encontram umas nas outras, formando cadeias ou sistemas ou ao contrário, as defasagens e contradições que as isolam entre si; enfim, as estratégias em que se originam e cujo esboço geral ou cristalização institucional toma corpo nos aparelhos estatais, na formulação da lei, nas hegemonias sociais." (1993, p. 88-89). A noção de repressão é totalmente inadequada para dar conta daquilo que há de produtor no poder. Se o poder fosse somente repressivo e dissesse apenas não, não seria obedecido. Tem que ser considerado como uma rede produtiva que perpassa todo o corpo social, que “produz coisas, induz prazer, forma saber, produz discursos” (Diáz, 2012). Para Foucault, nem o controle nem a destruição do aparelho do Estado seriam suficientes para fazer desaparecer ou transformar, em suas características fundamentais, a rede de relações de poderes que impera em uma dada sociedade . Destarte, em vez de coisas, o poder é um conjunto de relações; em vez de derivar de uma superioridade, o poder produz a assimetria; em vez de se exercer de forma intermitente, ele se exerce permanentemente; em vez de agir de cima para baixo, submetendo, ele se irradia de baixo para cima, sustentando as instâncias de autoridade; em vez de esmagar e confiscar, ele incentiva e faz produzir. É notório para Foucault que o poder e o saber caminham lado a lado. Todo saber é político e se origina das relações de poder. Saber e poder se implicam mutuamente: todo lugar de exercício do poder é, ao mesmo tempo, espaço de construção do saber. Foucault chega à conclusão que as ciências humanas (fase de investigação arqueológica) nascem das técnicas disciplinares. O saber é uma peça de um dispositivo político que, enquanto dispositivo, articula-se com a estrutura econômica – que necessita da disciplina ou do poder disciplinar para maximizar a produção, tornando o ser humano mais agente produtivo do que agente político de transformação. A fase genealógica, entre outras coisas, discute a questão do biopoder. Se a disciplina está na origem das ciências humanas, o biopoder está na gênese das ciências sociais (a Geografia, a Demografia, a Economia, a Estatística). Ele é um tipo de poder que se exerce no nível da espécie: o controle da população via sexo é cada vez mais tratado pelos administradores e demógrafos. O sexo se torna cada vez mais assunto popular, que pode ser falado, mas no intuito de poder controlá-lo em favor da própria espécie. Para concluir, não se pode deixar de fazer referência à estreita relação entre o pensamento de Foucault e o de Nietzsche na fase genealógica . Isso fica evidente na escolha dos temas que o primeiro tratou e que foram anteriormente selecionados pelo segundo. Entre eles, pode-se citar: a culpa, o castigo, a crueldade, a lei, a falta, a pena, a justiça etc. Todos eles de alguma forma relacionados à questão do poder. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, José Augusto Guilhon. Michel Foucault e a teoria de poder. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 7(1-2): 105-110, outubro-1995; DESCHAMPS, C. As ideias filosóficas contemporâneas na França. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, (1991); DIÁZ, Esther. A filosofia de Michel Foucault. São Paulo: Ed. Unesp, 2012; FOUCAULT, M. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Ed Graal,2012; FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1998.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

ANALFABETOS POLÍTICOS por Bianca Sena Simas ................................................................................................................................................. Apesar de o espetáculo da corrupção enojar e distorcer a imagem da política, a opinião pública sobre esse assunto, sem dúvida, é de extrema importância para o desenvolvimento nacional e torna-se necessária quando se tem a democracia como regime de governo, como é o caso do Brasil. Infelizmente, por maus hábitos de alguns políticos, é notável a quase generalizada aversão (ou, talvez, desleixo, egoísmo e ignorância) da população brasileira ou, como diria Brecht, dos analfabetos políticos ao se discutir esse assunto. Em linhas gerais, os analfabetos políticos são em parte como o acendedor de lampiões, personagem do XIV capítulo do livro “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint- Exupéry: eles seguem apenas o regulamento, sem nem sequer tentar compreendê-lo. Cheio de moralismos rasos e opiniões pobres, esse tipo de cidadãos medianos, segundo Brecht, enche a boca e “estufa o peito para falar que odeia política”, não sabendo os “coitados” que desse ato criminoso é que surgem as desgraças sociais, o político corrupto, o vigarista, e que, por causa do analfabeto político, elegem-se os políticos analfabetos – veja-se o caso de Tiririca. Diante de um período com grandes transformações sociais e eventos políticos importantes, o mais comum a se ouvir nas ruas são músicas de funk, pagode, futebol, moda e outras futilidades. No entanto, quando se deixa de lado os livros, jornais e revistas de informação, torna-se conivente com a horda de sanguessugas dos cofres públicos e, consequentemente, torna-se tão sujo e corrupto quanto quem se julga. Está aí outro ato errôneo de todo analfabeto político, julgar mal todos os que se envolvem com política. A política está em todos os nossos pequenos atos e a cultura é fundamental para a alfabetização política. Precisa-se de ação, seres autônomos e conscientes, com capacidade de reflexão, afinal de contas, como diria Vitor Hugo, “quem polpa o lobo, sacrifica a ovelha”.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Tarde Sedenta

Passei a tarde pensando em você!/ Eu sei que isto não te interessa mais, mas.../ Passei a tarde pensando em você/ E tudo que eu queria era que a tarde/ Não mergulhasse na escuridão e, por fim,/ Pudesse ceder à penumbra de minha vida/ Há tanto para te dizer!/ Há tanto cheiro em você que eu quero cheirar/ Como quem vem do interior e sente o cheiro do mar.../ Vem desaguar a saliva de tua boca em mim/ Quero que nos nossos lábios transborde a tua sede de mim/ Pois a minha secura vem da falta de ti/ No navio dos pecados/ O que carrego é um mar de solidão/ E o que ora tem me alicerçado/ É o batuque frenético do meu coração/ Passei a tarde sedento...pensando em você.

domingo, 20 de maio de 2012

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um dia de chuva


Hoje o dia se transmutou à tardinha.
E fez transbordar as calçadas vazias.
As águas foram chegando bem devagar.
Gota a gota.
E um céu aberto se viu tomado por nuvens fortes e intensas.
De cores vivas. Adoro cores vivas...
O céu ficou banhado por uma cor cinza.
Um cinza vivo. Azul, tão azul que só deixava de ser cinza-azul quando vinha um relâmpago e abria o céu, incendiando-o com um estampido.

Da varanda do meu apartamento eu vi a alegria.
A alegria das plantinhas sem dono que carecem dos cuidados do tempo.
A alegria das crianças chutando poças d’água.
A alegria das cobertas esquecidas nas camas sonolentas...
E os espelhos cobertos me fizeram lembrar o meu tempo de menino no interior e me voltaram para o meu interior.

Hoje foi um dia de paz.
De só querer ouvir e contar os trovões.
De sentir aquele vento tocar levemente a face e me lembrar as alturas chapadinas.
Foi um dia para olhar os prédios submersos e a dança frenética dos galhos das árvores que sonham em tomar uma direção, mas são impedidos pelas suas raízes.

Hoje foi um dia de muito trabalho para os semáforos que, enamorados, piscavam amarela e desesperadamente para os automóveis.
Mas também para as formigas aladas que fugiam dos pingos céleres.
Hoje foi um dia de ascensão das cigarras e sua orquestra estonteante e também foi um dia de queda das folhas amarelas.
Do chão brotavam essências como uma virgem que, arada e penetrada por um homem, germinou
Hoje foi um maravilhoso dia de chuva...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Leiam: Henry & June de Anaïs Nin


"Você carrega consigo um reflexo meu, uma parte de mim. Eu sonhava com você, desejava sua existência. Você sempre será uma parte de minha vida. Se eu a amar, deve ser porque partilhamos em alguma época dos mesmos pensamentos, da mesma loucura, do mesmo estágio."
(Parte do diário de Anaïs Nin. Ela fala sobre a sua paixão avassaladora pela femininidade demoníaca de June)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O que vem depois dos 34?



Evidentemente, o número 34 se refere à quantidade de anos que possuímos. A resposta mais óbvia para o questionamento é: 35 anos. Pois é, em junho de 2010, estava refletindo sobre a minha condição no mundo ao completar esta idade e, após algumas leituras em revistas especializadas em psicanálise e algumas conversas na mesinha de um bar, cheguei à conclusão de que estou em crise. Eureca! Pois é, crise das brabas! Gostaria de dividir meus pensamentos com aqueles que se encontram no mesmo porão, escrevendo sob o ponto de vista masculino, pois, o que tenho para dizer não deve se enquadrar no universo feminino, já que, dizem, as mulheres amadurecem mais cedo que os homens, possuem interferências hormonais diferentes das nossas e, no final das contas, não sou um conhecedor do olhar feminino como gostaria de ser.
Quando nós homens chegamos aos trinta e cinco anos, a impressão que dá é a de que chegamos ao limiar, ao limite entre uma vida que já era e outra que vai começar, só que ladeira abaixo. É como se houvesse a passagem de uma dimensão à outra. Olhamos para trás e temos a convicção de que todo o tempo que passou – afora os momentos de alegria – foi em vão, que tudo ainda está por ser construído. É como se acordássemos numa segunda-feira após um domingo aprazível, cheio de diversão, e nos mandassem tirar a bermuda e o chinelo e botar as calças e os sapatos apertados. É o despertar para uma realidade que, só de pensar, dá medo. “O que vou e como vou decidir?” e “estou certo sobre o que eu quero?” são as perguntas mais freqüentes e mais complicadas para se obter a resposta. E nos enrolamos mais e mais quando achamos que possuímos a mais correta.
Acredito que passar dos trinta e cinco é estar entre duas crises: a primeira é a chamada “crise dos vinte e poucos anos”, que, segundo psicanalistas, é mais comum entre os homens com mais de trinta anos do que pensamos. É quando rimos com mais vontade, mas também choramos com menos lágrimas e mais dor, aprisionando nosso sentimento para mostrar que somos homens feitos. É com trinta e cinco anos que, ao virarmos a cabeça para as costas, descobrimos que deixamos passar o grande amor de nossa vida – até então! –, pois ele foi trocado por caprichos e escolhas estúpidas e peterpanianas, e que não temos mais certezas sobre se é bom amar e se caberá outro amor algum dia dentro de nosso coração empedrado. É, ao mesmo tempo, o momento em que queremos constituir família e miramos os nossos desejos para o aparecimento de um rebento, para podermos, enfim, ensinar a alguém o que aprendemos com nossos pais e nele depositar todo crédito e (por que não?) todas as frustrações. É o triste momento em que cai a ficha sobre a profissão em que nos enfiamos e que, parece-nos, não há mais tempo para mudarmos para outra, e, se há, já não temos mais tanta força para nos desfazer dos nossos hábitos.
No day after da comemoração do meu trigésimo quinto aniversário me deu vontade de voltar tudo de novo e me ver novo de novo. Poucas vezes na vida, penso, um homem pode se observar no espelho tão cruamente (e cruelmente) no fundo dos olhos e constatar a influência do tempo. E o tempo, que antes dos trinta e cinco parecia um aliado, torna-se um dos nossos tantos algozes (um vampiro, suponho). Um pessimista diria que já passamos da metade da vida; um otimista reclamaria: calma lá, ainda falta dois anos e alguns meses, se você estiver se cuidando bem! Nessa idade já não nos achamos tão novos, mas, também, não nos achamos tão velhos. E aí, a vaidade, mesmo que com os pés no chão, corre solta, afinal, temos que fazer uma viagem proustiana e ir à busca do tempo perdido.
Entender isso é começar a se preparar para a outra crise que ora se aproxima e já dá para sentir as suas fisgadas: a “crise da meia idade”. É crise atrás de crise! Haja estrutura psíquica para suportar tanta masturbação psicológica... Esta “crise seria mais uma peça no processo descrito pelo psiquiatra suíço Jung como metanóia (palavra grega que significa "mudança"), o que se dá a partir da confrontação do indivíduo com o "envelhecer" e, por conseguinte, com a ideia de ser finito” (Revista Psique, nº62). Ao estar entre as duas crises, a sensação é a de que quando descobrimos as respostas, a vida mudou as perguntas... E tome noites de insônia! E tome Rivotril. E tome cremes para retardar o envelhecimento e esconder as olheiras. É como se nós estivéssemos na pele do protagonista de Beleza Americana (muito interessante e instrutivo!), quando ele descobre que sua vida toda foi o que, parafraseando Manuel Bandeira, poderia ter sido.
Pois é! Quem está passando por um momento de cruzamento de crises como o dos trinta e cinco anos sabe a barra que é... Amadurecer não é fácil, porém é necessário. Só me lembra o filme Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de um dos meus atores/diretores preferidos, Woody Allen. A cena final trata de uma peça teatral dirigida pelo personagem de Allen em que um casal obtém êxito em seu relacionamento amoroso, bem diferente do que havia ocorrido com ele. E Allen termina o filme dizendo: “O que você quer? É a minha primeira peça. Sabe, você sempre tenta fazer tudo sair perfeito na arte, porque na vida real é mais difícil”.
A todos os que estão experienciando este perrengue existencial, vai uma dica dos terapeutas e das nossas queridas avós: tudo passa... Dói, atrapalha, mas não é impossível de contornarmos. É hora de sairmos do cinema e trilharmos o caminho da alfinetante realidade. Cabe a nós encarar com peito erguido e muita coragem todo este turbilhão de coisas e “transformar as intempéries em halteres”, como disse o velho e bom cinquentenário Lobão. Afinal, estamos todos “vivendo e aprendendo a jogar. Nem sempre perdendo nem sempre ganhando, mas, aprendendo a jogar”!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

PROSEANDO


O Causo de Leopoldina


O causo que agora conto a vocês há muito é conhecido por quase toda gente da Chapada e me foi passado por meu avô Alípio Vieira na presença de seu compadre Faustino Boca de Mula. Conto para que sirva de exemplo a toda moça prendada de família e não com a intenção de mexericar, porque, nas bandas de cá, homem que é homem, que se dá o respeito, não anda alcovitando em orelha alheia.
Aconteceu nos idos de 1965, nas paragens da cidade de Rui Barbosa, cidade do sertão baiano famosa pelas fazendas e briosa de sua carne do sol de dois pêlos. Terra situada aos pés da Serra do Orobó, onde morava o finado Pipo Oliveira Amorim, quem realmente presenciou os acontecimentos que ora transmito a vocês e contou ao meu avô.
Conforme relato de tão fidedigna fonte, toda parcela masculina da cidade de Rui Barbosa tinha olhos para a jovem Antônia Leopoldina Gusmão e Gouveia. Sobrenome pomposo de antiga e tradicional família da região, que, por culpa das secas sazonais e da jogatina em que se embrenhara o seu patriarca Nozinho Gouveia, havia reduzido a sua fortuna a uma casa estilo colonial cujos inúmeros quartos agora faziam parte de uma pousada que mais se assemelhava a uma pensão. Leopoldina era cortejada por todos e a todos negava os seus dotes pessoais. Era moça invejada e imitada; de inigualável formosura, de modos elegantes e andar e olhar de felina no cio.
Pipo Amorim contou ao meu avô que no mês de outubro de todos os anos, a pretexto das comemorações do dia da padroeira do Brasil, acontecia a mais concorrida festa da região, a Festa da Saudade. No dia 12, a cidade de Rui Barbosa se enchia de orgulho de receber em seu mais distinto clube social as mais ilustres e civilizadas famílias das cidades circunvizinhas. A pomposa solenidade era tão aguardada que todas as butiques chiques – ali instaladas para atender aos bem informados e antenados descendentes dos coronéis – mandavam trazer do Rio e de Salvador o que havia de mais moderno em peças de vestuário e bijuteria. Não é à toa que, mesmo vivendo um período de crise econômica nacional, os citadinos se endividavam com gosto para posar com roupas e sapatos inéditos na sua festa maior. Ainda mais naquele ano em que Dona Maria Birro Doida, organizadora do festejo, havia encerado e decorado ao estilo clássico grego todo o salão do clube para a comemoração dos 20 anos de Festa da Saudade.
Como naquela época Rui Barbosa era ainda a cidade mais desenvolvida dos arredores, um número grande de viajantes passava por lá em busca de pouso e negócios. É aqui que se apresenta o outro importante personagem desse causo. Etevaldo Santos Silva, vulgo Caburé – alcunha que lhe foi emprestada por causa do seu porte físico raquítico, cabeça achatada como a da ave de rapina e por causa de seus costumes notívagos –, era um caixeiro viajante bastante requisitado na cidade e frequentador assíduo da pousada dos Gusmão e Gouveia. Assim como todos os outros detentores de porções de testosterona subutilizadas, Caburé via a jovem Leopoldina como um troféu a ser conquistado e decidiu partir para a luta assim que arriou as malas na cidade e viu a morenice provocadora da moçoila. O negociante jurou a si mesmo que não pouparia esforços e pratas para garantir o êxito de tal empreitada.
Na pousada, como quem não queria nada, com um papo rasteiro e despretensioso com a moça que mal lhe dava ousadia, Caburé descobriu que a mesma estava desgostosa da vida. O motivo: não poderia prestigiar a tão badalada festa, já que não conseguira descolar da mãe os contos de reis necessários para adquirir o ingresso, vestir tão fabuloso corpo e calçar seus refinados pés.
Já que na guerra e no amor vale tudo, pensou o caixeiro, gasto tão elevado assim poderia depois ser contabilizado como investimento se conseguisse ser o acompanhante da mais cobiçada das donzelas da cidade. Então, de pronto, saltou de sua boca o convite para custear as despesas da senhorita, caso assentisse ser o seu acompanhante.
– Quem o senhor pensa que está cortejando – disparou Leopoldina com ar ferino e nariz agora arrebitado. – Não se dê o desplante de tal oferta. Não vê que jamais seria uma acompanhante de um valdevinos como o senhor?
Caburé se recolheu ao mais profundo dos poços da vergonha, mas não se deu por vencido, afinal de contas, desde que se viu homem feito, cabra macho, filho de seu pai Zé Nastácio, mulher nenhuma havia lhe desprezado de tal maneira e, ao mesmo tempo, lhe despertado tamanha fissura. Agora era questão de honra, ou amansava a potranca ou jamais retornaria a Rui Barbosa. Passou toda a semana insistindo, até que, quando já se dava por vencido, dois dias para a festa, no último lance de insistência, Leopoldina assentiu com a cabeça, ruborizando e deixando Caburé alucinado de alegria.
Até hoje, ninguém daquela cidade sabe quais as razões que levaram tão linda moça a realizar tão infame companhia. Alguns dizem que ela só se dispôs a isso porque seria a única a chegar ao clube conduzida em um Galaxi que fora alugado por Caburé naquele mesmo dia. Outros preferem acreditar que o miúdo vendedor era portador da mais afiada lábia e que a sua condição e treino no ramo das vendas lhe facilitaram a conquista.
O que se desenrolou após a triunfal chegada ao clube pouca gente da região nos tempos de hoje há de não ter ouvido falar.
Leopoldina, passando a torniquete da entrada do salão, exibindo o mais luxuoso vestido entre as mulheres, desprendeu-se da mão de Caburé e se refugiou no camarote das prestigiosas amigas também moças de família de Rui Barbosa, deixando o seu parceiro totalmente deslocado no meio do clube. Danças e mais danças ocorreram e nada do caixeiro viajante ter a sua recompensa por dispendiosos gastos. Foi então que lhe ocorreu a mais doce e nojenta das vinganças. Prostou-se diante dos pés de Leopoldina em meio às suas refinadas amigas e a implorou que o concedesse pelo menos uma única dança como forma de cumprir com o acordo. De muito adular e para não despertara a curiosidade dos presentes em volta da moça, conseguiu que esta se levantasse para dançar uma música que já se encontrava pela metade. Arrastou-a bem ao centro do salão e, quando já findavam as notas musicais, o mascate disparou uma sequência de peidos que ressoaram tão forte que todos os convidados olharam na direção do casal. Neste ínterim, Caburé, agilmente, afastou-se de Leopoldina dando dois passos para trás e, com ares de ultrajado, gritou bem alto: “Carniça! Carniça! Já não bastasse a comida acebolada da pensão da tua mãe, você ainda quer me matar de vergonha bufando aqui desta maneira?!”.
O tempo passou e Pipo Amorim disse ao meu avô que não se ouviu notícias de Etevaldo Santos Silva, a não ser que ele se estabeleceu comerciante e tem 5 filhos na próspera cidade de Itaberaba, que hoje é a maior cidade da Chapada Diamantina. Sabe-se também que, após o ocorrido, nunca mais havia retornado a Rui Barbosa, agora cidade decadente e de poucas realizações.
Quanto a Pôdinha, apelido que Leopoldina recebera a propósito de seu nome e do acontecimento nos inesquecíveis 20 anos da Festa da Saudade, qualquer um pode encontrá-la manhã, tarde e noite esquentando os cotovelos em uma das bases das janelas de sua casa, usufruindo de pensão do INSS que conquistou fazendo favores libidinosos aos políticos e poderosos da região.

sábado, 5 de junho de 2010

PROSEANDO



A FELICIDADE É UMA MERDA

No intervalo que separava suas nádegas do chão, encontrava-se um vaso de cor creme e com o tampão quebrado que o seu pai o presenteara quando havia casado pela segunda vez. Gostava de estar ali. Sentia-se bem. Isso é o que no fundo importava... Costumava frequentar aquele local todos os dias, horas a fio, deleitando-se com o singelo e singular prazer de experimentar a frigidez daquele vaso.Era lá que as grandes idéias brotavam - até mesmo aquela da campanha sobre calcinhas transparentes que a sua agência de publicidade tinha utilizado para abocanhar o prêmio de um concurso entre empresas do ramo. Era onde podia fantasiar; coçar o sexo; olhar-se de baixo pra cima através do reflexo da água; arrancar, com cautela, é verdade, aqueles pêlos que preenchiam o espaço em torno do anel que existia entre as maçãs de sua bunda e que teimavam em crescer. Era onde podia ler o diário da semana anterior sem que ninguém o repreendesse; fazer de conta que não tinha noção da contaminação que sofria pela água do vaso que espirrava circularmente com a queda de um bolo fétido, amarelado e amorfo, que sempre se desprendia com algum esforço e custava-lhe algumas gotas de suor e uma face contraída. Enfim, sentia-se um rei-momo no carnaval, um semideus em seu próprio universo, quando, entre quatro paredes, se isolava do restante do mundo. Mas algo estava lhe incomodando. De uns três meses pra cá, não demorava mais que meia hora em sua reserva de inspiração. Tudo por culpa de um ser estranho, que, anteriormente, pensava conhecer bem. Logo nos momentos em que seu pinto decidia-se por ganhar alguns centímetros, um som irritante de chinelos arrastados e algumas batidas fortes na porta eram seguidos de um lembrete: "Ande depressa, senão nós vamos perder o horário do trabalho.". A sua juventude toda sonhou em compartilhar o mesmo espaço com outrem, todavia, sabia agora que isso não valia para todo lugar e muito menos para todas as pessoas. Aquela voz incansável e cansativa, que mais parecia um berro e que o deixava mal-humorado todas as manhãs, lembrava a da sua falecida mãe, que o impedia de jogar pelada com os vizinhos no tempo que, ainda moleque, morava no interior. Aquela não era mais a voz da jovem que o fazia imaginar mil posições numa cama redonda de motel na beira de uma estrada. Daquela que, só de ouvir, percebia seu coração injetar sangue nos vasos da sua genitália - que apelidara, carinhosamente, de Bizunga.O tempo, quem diria, havia pregado uma peça nele! Contudo, este mesmo tempo lhe dotaria de sabedoria e paciência para solucionar o problema que se lhe apresentava. Numa certa madrugada, ainda quando as primeiras fagulhas emitidas pelo sol rompiam o céu escurecido, ao passar a mão corriqueiramente no lado esquerdo da cama, sua esposa não sentiu a presença dele, muito menos a de Bizunga, que, naquele horário do dia, ficava esguio como uma escova de banheiro encostada no cantinho da parede. Ocorreu-lhe, então, que, durante toda a noite, não sentira aquela perna cabeluda e magra entre as suas. Decidiu procurá-lo pela casa. Aí, quando fincou os pés diante do banheiro, pôde entrever por baixo da porta a sua sombra imóvel e, ao se aproximar, sentiu um mau-cheiro que se assemelhava ao de um defunto em estado de putrefação. O susto não a impediu de empurrar a porta e registrar, sem piscar os olhos e boquiaberta, o marido todo melado de uma pasta que, com o tempo, assumira uma cor marrom, que continha em relevo caroços de feijão levemente deformados. Para sua surpresa, o marido tinha um semblante marcado por uma felicidade jamais vista durante a vida conjugal. Afinal, o Alceu estava todo cagado e feliz! Ao ser solicitado a prestar contas sobre o ocorrido, desabafou: "Esta cagada foi pelos dias que interrompeste minha concentração, pois, na noite anterior ao nosso casamento, quando confidenciamos os nossos mais íntimos segredos, ouviste de minha boca que a minha maior aflição era a prisão de ventre que carrego desde a meninice. Porém, parece que não se lembras deste detalhe. E agora me deixes só para que eu comemore o final de uma semana de comichão, dores e gases sufocados. Vai-te embora e ao menos não se esqueça de bater a porta do banheiro, pois, esta noite toda não corresponde sequer ao tempo que me obrigaste a sair às pressas do meu assento amado. Aliás, é bom lembrar, foi a única coisa que, apesar da sua frieza, me permitiu ficar por cima todo este tempo, sem falar um ai, e que se manteve durinha, sem languidez ou celulite.".

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Xico Sá: adoro este cara

PROSEANDO


ASSIM EVOLUI A HUMANIDADE


Eles eram mais fortes e adaptáveis. Ah, isso eles eram! Eu só acreditei meses depois do grande estouro. Tinham, de um modo geral, as mesmas características aparentes da nossa raça, mas, qualquer um podia ver e perceber que eles eram superiores naquele mundo que surgiu após a grande luz que incendiou os céus.
O grande estouro ou a grande luz foi uma coisa que aconteceu depois de muitos avisos de alguns especialistas que sempre apareciam na tevê no horário do jornal El Pueblo para amedrontar todo o povo. Eles diziam que a qualquer momento o mundo poderia ser todo retalhado e furado como queijo suíço se houvesse um confronto entre as desenvolvidas potências mundiais. Que as armas nucleares poderiam ser tão letais e fatais que poucos seres sobreviveriam à detonação do arsenal que os governos haviam construído a partir da economia do dinheiro dos impostos cobrados do seu povo.
A minha mulher, que era professora de Biologia antes da grande luz e do grande estouro, me falou que o orçamento de alguns governos era basicamente destinado para o fabrico de armas nucleares. Que muitos deles empobreciam o povo famigerado para enriquecer urânio e plutônio. Eu achava que ela falava demais bem na hora que eu chegava cansado do trabalho e só queria assistir ao meu jornal. Coitada! Dela não tenho mais notícias depois da grande luz incendiadora de corpos e lares.
O tempo em que eu e a minha mulher vivemos juntos foi muito bom, mesmo ela falando demais. Ela falava de ciência, de liberdade, de casamento aberto, de corrupção... Parecia até que tinha resposta pronta para tudo. Muitas coisas eu assimilava e outras não. Eu não entendia, por exemplo, porque ela não acreditava que existia um deus criador de todas as coisas. Ela me respondia falando de um assunto complicado chamado evolução das espécies, de um certo Darwin, que ela pronunciava daruin. Era muito complicado para eu entender porque, como tinha dito a ela, na minha escola adventista a professora falou desse assunto bem rapidamente e disse que isso era maluquice. Ainda me lembro dela toda risonha disparando: “quem já se viu uma loucura dessas. Como um homem pode evoluir do macaco? Se fosse assim, os macacos estariam se transformando em homens até hoje!”. Tenho a impressão de que até minha pró não entendia direito a tal teoria.
Agora, diante de tudo o que vejo, diante de tudo ou quase nada que sobrou nas ruas da minha cidade metropolitana, compreendi claramente o que seria a evolução das espécies.
Eles são muito diferentes de nós, apesar de serem iguais na aparência. Eles são uma nova espécie que foi se formando ao correr dos anos nas periferias da minha cidade, nos subúrbios franceses, nos centros deteriorados de São Paulo e Nova Iorque, nas estreitas ruas da Cidade do México e por quase todos os lixões dos centros urbanos do mundo. Eles sempre foram vistos como inferiores. Ah, que engano o nosso, que nos achávamos superiores a eles porque nos vestíamos com casacos aveludados, usávamos mocassins encerados e passeávamos ao redor da praça La Emancipación nos dias de domingo após a missa matinal e o almoço no Baby Beef chileno. Meu Deus, quanto descaminho rumo ao enfraquecimento!
Quando detonaram a primeira das milhares de bombas e os mísseis de médio e longo alcance começaram a riscar os céus como foguetes da festa de Nuestra Señora de Santiago, todos correram desesperados em busca de abrigo para aquela nuvem de fumaça incandescente que se espalhava rapidamente pelas ruas e se alojava em nossos pulmões. Milhões, bilhões de pessoas morreram rapidamente com o fogo que ardia em sua pele. Outras morreram alguns dias depois com sangue brotando dos seus poros. Outras tantas, assim como eu, adquiriram câncer e estão morrendo aos poucos de dor, frio, medo e fome.
Contudo, eles estão por aí. Eles, que durante milhares de anos se sujeitaram a dormir na intempérie, que foram humilhados por nossa bonança, que tiveram seus lares despedaçados – quando não confiscados pelos governos por falta de pagamento de impostos. Eles, que comeram o alimento podre dispensado das geladeiras de inox e recheado de chorume nos lixões, agora se tornaram os senhores deste mundo que ora deixo me contorcendo de dor.
Sim, uma mudança lenta e significativa estava acontecendo bem ali ao alcance dos nossos olhos e não enxergamos nada. A evolução da espécie humana se deu em nossos bolsões de miséria e não pudemos diagnosticar, muito menos imaginar. Logo aqueles indivíduos que retiravam a paz do nosso sono nas madrugadas geladas de nossa capital foram escolhidos pelo nosso bom Deus para dar prosseguimento à evolução. Meu Deus, como poderíamos saber que aquele viver tão sofrido poderia esconder algo de bom e a salvação? O mal-estar contínuo dos desnutridos e despossuídos alterou seu código genético e até mesmo a sua fisiologia. E nós, logo nós, que éramos tementes ao senhor e que não atrasávamos um dia sequer o pagamento dos nossos impostos, estamos todos condenados à extinção.
Meu Deus, só agora compreendi: é assim que evolui a humanidade.

XICO SÁ É UM JORNALISTA SERTANEJO E POETA DOS RELACIONAMENTOS

terça-feira, 5 de agosto de 2008

POESIA PURA

Eu sobre eu mesmo

vivo nos caminhos...como um cigano sem destino.
interponho-me entre o frugal e o fausto: um dia no luxo, no outro, um zé-ninguém.
a minha vida é um constante deslumbramento diante desse mundo precário. mundo da precariedade humana, gostosa e combalida precariedade mundana!
transfiguro-me em paciência quando sou fogo que arde sob as
fogueiras da concupiscência.
descubro-me um misto de coisas: internexo, intersexo, interregno.
tenho nojo e aniquilo meu apetite diante da possibilidade de sacia-lo. sempre quero mais...
sou cão do mato que ora vagueia pela penumbra das árvores noturnas, procurando carniças postiças da sociedade pós-moderna, pós-eterna, pós-eva, toda merda.
sinto-me condescendente quando não fujo dos muros da minha marginalidade imoral que perturba o sono dos indecentes inocentes.
o meu eu é uma busca desvairada do teu.
decifro cifrões nos olhos daqueles que me interrogam nas escuras
ruas da cidade das vaidades.
eu sou a transformação retomada a cada instante,
a putrefação dos alimentos que servem de esterco para a
árvore do livre pensar; a anarquia de um sangue que espirra de um coração despedaçado.
transito por um nada que existe onde não há nada, pois há tudo.
as fronteiras se me apresentam como um passaporte para a mediocridade diante da fome e também do
medo que sinto da amplidão. a amplidão da mente e da existência humana; da existência do nada que permeia minhas células e o meu gooooozo!!!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

POESIA PURA

Uma Jornalista Sem Notícias

Ela vivia tocando uma música,
Aquela..., de autor imaginário.
Permitia-se sumir,
Como quem é de Aquário.
Ela estudava semiótica
Pra compreender os otários.
Sofria de um vício:
Tráfego interplanetário.

Ela tinha muito medo,
Medo de dividir seus segredos.
Mas mostrava-se muito forte:
Do gênio aos fios do cabelo.
Ela era tão linda,
Deram-lhe espelhos...

Ela era muito perigosa,
Como uma serpente.
Suas justificativas falhavam,
Como tudo em mente.
Ela não tinha idéia
De como me deixava impaciente.
E ela, como um lençol,
Sempre dormente...
Mas bastava uma palavra com ela
P´reu dormir contente.

Não tinha minha idade,
Mas já pensava em liberdade.
Ela escrevia poemas,
Às vezes, complicados teoremas.
Gostava de Reich,
McLuham, Stones e do Nando
E cuspia nos hinos, love stories e nos hermanos.

Ela andava por aí,
Por aí sem dar pistas.
Não tinha coração,
Coração de egoísta!
Ela tinha um mistério:
Uma misteriosa equilibrista.
Andava sumida,
Sumiu das minhas vistas.
Ela era uma jornalista,
Uma jornalista que não dava notícias.

sábado, 12 de julho de 2008

SESSÃO CINEMA: Admirável Mundo Novo

LEITURA RECOMENDADA: Admirável Mundo Novo

O Acervo de Loucuras recomenda a todos aqueles que, além de gostar de uma boa leitura, se amarram em tudo que relacione futuro da humanidade, poder, domínio, clonagem e tecnologia, a leitura do livro Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. A seguir, o comentário de Maria Clara Corrêa Tenório a respeito do mesmo:
"O cientificamente possível é eticamente viável? O Admirável Mundo Novo, escrito por Aldous Huxley em 1931 é uma “fábula” futurista relatando uma sociedade completamente organizada, sob um sistema científico de castas. Não haveria vontade livre, abolida pelo condicionamento; a servidão seria aceitável devido a doses regulares de felicidade química e ortodoxias e ideologias seriam ministradas em cursos durante o sono. Olhando o presente, podemos imaginar um futuro semelhante em termos de avanços tecnológicos. Será ele de excessiva falta de ordem, da ordem em excesso preconizada por Huxley ou já vivenciamos o pesadelo virtual de Matrix, a fábula cinematográfica atual ?"

Dá pra ler em uma sentada!!!!!
Mais: no Acervo de Loucuras você ainda encontra um vídeo sobre "Admirável Mundo Novo"