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quinta-feira, 3 de junho de 2010

PROSEANDO


ASSIM EVOLUI A HUMANIDADE


Eles eram mais fortes e adaptáveis. Ah, isso eles eram! Eu só acreditei meses depois do grande estouro. Tinham, de um modo geral, as mesmas características aparentes da nossa raça, mas, qualquer um podia ver e perceber que eles eram superiores naquele mundo que surgiu após a grande luz que incendiou os céus.
O grande estouro ou a grande luz foi uma coisa que aconteceu depois de muitos avisos de alguns especialistas que sempre apareciam na tevê no horário do jornal El Pueblo para amedrontar todo o povo. Eles diziam que a qualquer momento o mundo poderia ser todo retalhado e furado como queijo suíço se houvesse um confronto entre as desenvolvidas potências mundiais. Que as armas nucleares poderiam ser tão letais e fatais que poucos seres sobreviveriam à detonação do arsenal que os governos haviam construído a partir da economia do dinheiro dos impostos cobrados do seu povo.
A minha mulher, que era professora de Biologia antes da grande luz e do grande estouro, me falou que o orçamento de alguns governos era basicamente destinado para o fabrico de armas nucleares. Que muitos deles empobreciam o povo famigerado para enriquecer urânio e plutônio. Eu achava que ela falava demais bem na hora que eu chegava cansado do trabalho e só queria assistir ao meu jornal. Coitada! Dela não tenho mais notícias depois da grande luz incendiadora de corpos e lares.
O tempo em que eu e a minha mulher vivemos juntos foi muito bom, mesmo ela falando demais. Ela falava de ciência, de liberdade, de casamento aberto, de corrupção... Parecia até que tinha resposta pronta para tudo. Muitas coisas eu assimilava e outras não. Eu não entendia, por exemplo, porque ela não acreditava que existia um deus criador de todas as coisas. Ela me respondia falando de um assunto complicado chamado evolução das espécies, de um certo Darwin, que ela pronunciava daruin. Era muito complicado para eu entender porque, como tinha dito a ela, na minha escola adventista a professora falou desse assunto bem rapidamente e disse que isso era maluquice. Ainda me lembro dela toda risonha disparando: “quem já se viu uma loucura dessas. Como um homem pode evoluir do macaco? Se fosse assim, os macacos estariam se transformando em homens até hoje!”. Tenho a impressão de que até minha pró não entendia direito a tal teoria.
Agora, diante de tudo o que vejo, diante de tudo ou quase nada que sobrou nas ruas da minha cidade metropolitana, compreendi claramente o que seria a evolução das espécies.
Eles são muito diferentes de nós, apesar de serem iguais na aparência. Eles são uma nova espécie que foi se formando ao correr dos anos nas periferias da minha cidade, nos subúrbios franceses, nos centros deteriorados de São Paulo e Nova Iorque, nas estreitas ruas da Cidade do México e por quase todos os lixões dos centros urbanos do mundo. Eles sempre foram vistos como inferiores. Ah, que engano o nosso, que nos achávamos superiores a eles porque nos vestíamos com casacos aveludados, usávamos mocassins encerados e passeávamos ao redor da praça La Emancipación nos dias de domingo após a missa matinal e o almoço no Baby Beef chileno. Meu Deus, quanto descaminho rumo ao enfraquecimento!
Quando detonaram a primeira das milhares de bombas e os mísseis de médio e longo alcance começaram a riscar os céus como foguetes da festa de Nuestra Señora de Santiago, todos correram desesperados em busca de abrigo para aquela nuvem de fumaça incandescente que se espalhava rapidamente pelas ruas e se alojava em nossos pulmões. Milhões, bilhões de pessoas morreram rapidamente com o fogo que ardia em sua pele. Outras morreram alguns dias depois com sangue brotando dos seus poros. Outras tantas, assim como eu, adquiriram câncer e estão morrendo aos poucos de dor, frio, medo e fome.
Contudo, eles estão por aí. Eles, que durante milhares de anos se sujeitaram a dormir na intempérie, que foram humilhados por nossa bonança, que tiveram seus lares despedaçados – quando não confiscados pelos governos por falta de pagamento de impostos. Eles, que comeram o alimento podre dispensado das geladeiras de inox e recheado de chorume nos lixões, agora se tornaram os senhores deste mundo que ora deixo me contorcendo de dor.
Sim, uma mudança lenta e significativa estava acontecendo bem ali ao alcance dos nossos olhos e não enxergamos nada. A evolução da espécie humana se deu em nossos bolsões de miséria e não pudemos diagnosticar, muito menos imaginar. Logo aqueles indivíduos que retiravam a paz do nosso sono nas madrugadas geladas de nossa capital foram escolhidos pelo nosso bom Deus para dar prosseguimento à evolução. Meu Deus, como poderíamos saber que aquele viver tão sofrido poderia esconder algo de bom e a salvação? O mal-estar contínuo dos desnutridos e despossuídos alterou seu código genético e até mesmo a sua fisiologia. E nós, logo nós, que éramos tementes ao senhor e que não atrasávamos um dia sequer o pagamento dos nossos impostos, estamos todos condenados à extinção.
Meu Deus, só agora compreendi: é assim que evolui a humanidade.

2 comentários:

Andrea Dora disse...

Gostei.... O discurso dessa criatura, é tão prosaico que parece até aquelas conversas de salão de beleza.
Gostei do seus tons.....
Criou uma resposta bastante justa, para todas as crenças bobinhas da classe média.

Anônimo disse...

Eu não tenho certeza se entendi bem o texto, mas parece-me que fala sobre uma explosão nuclear, ou um Armagedom, no qual os aptos para sobrevivência e a continuidade da espécie humana, e consequentemente sua evolução, seriam os que hoje julgamos desafortunados, os miseráveis, excluídos, que por causa de todo sofrimento e misérias que precisam suportar se tornaram biologicamente mais resistentes, ao passo que os que levam uma vida boa em comparação a estes,seriam rapidamente extintos.
Será que interpretei corretamente? Se não, gostaria que me explicasse o que o autor do texto tinha em mente ao escrevê-lo.
Obrigado!